Conto: Ifrit, O despertar do Demônio
Jandeilson Bezerra
Eu era só mais um entre tantos outros, só mais um a acordar, tomar banho e ir para o trabalho. Lá no trabalho eu sabia que não era apenas mais um já que minha função poucos exerciam, a de entregador de cartas, era eu e apenas mais um colega que quase não ia ao trabalho devido a problemas constantes em sua coluna. Sempre fui muito paciente, subia e descia cada andar dos dezoito andares do prédio quando não tinha que ir pessoalmente ao almoxarifado para recolher o lixo. Muitas vezes minhas ações funcionavam mecanicamente, outras vezes nem sentia o que estava fazendo já que tinha que fazer mesmo.
Certa vez quebrei minha rotina e antes de ir para o trabalho fui a missa em uma igreja ali mesmo perto de casa, fazia muito tempo que não ia à igreja já que não gostava muito de ir, sempre fui forçado pela a minha avó quando era criança e ainda nessa época mesmo que perdi o gosto e a vontade de ir. Sempre morei na rua Visconde de Pirajá, uma rua qualquer em um bairro nobre do Rio de Janeiro uma cidade muito bela e nada pacata, cheia de morros, com um Cristo de braços abertos e praia por todos os lados coisa que eu quase não curtia, podia se ver pela claridão de minha pele. A missa na Igreja de Nossa Senhora de Copacabana quase não é frequentada,as pessoas da cidade grande quase não têm tempo para os tributos religiosos, eu fui e fiz questão de sentar bem no fundo apesar dos insistentes convites de uma senhora já que a idosa certamente queria que ficasse perto dela na frente pertinho do padre, declinei e continuei setado ali atrás rezando para que mais ninguém me incomodasse.
Entre um rito e outro, no momento que me ajoelho para a grande oração eis que uma enorme fumaça cobre o local, não vejo nada e meu corpo em nada se move a não ser o meu globo ocular que vai de um lado para o outro tentando ver ou mesmo entender o que está acontecendo e nada, até mesmo os meus pensamentos escapam de mim com uma facilidade que não sei explicar. O medo já fazia parte de meu ser como eu dele.
Dentro da fumaça sou transportado a um local quente, sinto apenas os vapores quentes que a a brisa ao tocar minha pele trazia consigo. Dentro dessa fumaça vejo surgir meio que um espectro, parte homem e parte animal, sinto o meu coração acelerando, uma forte dor de cabeça, tento me libertar mas meu corpo ainda está ali imóvel sem nenhuma movimentação, meus olhos apenas observam aquele ser demoníaco.
Ano de 1986
Ano de 1986, estávamos eu e minha avó na Igreja, ela sempre foi uma mulher muito religiosa e eu já deveria ter uns cinco anos de idade, não gostava muito de acompanha-la e quando íamos à igreja eu sempre fiquei no fundo da igreja pois sempre aquela parte ficou vazia e os bancos enormes e vazios serviam de pista para eu brincar com meus carrinhos de fórmula um, até que um dia quando ela percebeu que eu já compreendia as suas palavras me falou que não ficasse mais no fundo da Igreja pois até um determinado ponto dela o demônio poderia usar já que o único lugar onde ele não poderia aparecer era no tabernáculo e no lugar do sacrifício. Trouxe aquilo comigo a vida toda e nunca esqueci daquele conselho.
Continua...
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