terça-feira, 5 de julho de 2011

A Ordem Secreta da Inconfidência Mineira - Parte III

A Ordem Secreta da Inconfidência Mineira
Parte III


Chegando na floresta, próximo a Vila Rica, a ordem estava mais uma vez reunida como se estivessem esperando o corvo que ao chegar pousara sob o altar, logo Grande Mestre se aproximara com sua capa imponente na cor vermelha que mais parecia flutuar, pegara o corvo e com uma pequena adaga tirara-lhe os olhos levando-os até uma pira cheia de água e jogando-os lá esperei que algo acontecesse, imagens turvas começaram a se fazerem presentes na pira, foi quando as imagens se fizeram constantes e límpidas mostrando tudo o que vira Tiradentes fazer naquela noite, eram as lembranças armazenadas nos olhos do corvo que fora a testemunha principal do acontecido. Todos que ali estavam presentes ficaram furiosos e resolveram que agora era a hora de agir silenciosamente como sempre fizeram nessas situações, o perigo era eminente e sua estadia na terra não poderia ser revelada. O Grande Mestre dispensou a todos, com uma promessa de que a solução se daria ainda naquela noite, e seguira para a sua casa, enviando imediatamente um mensageiro ao Visconde de Barbacena. Ao receber a mensagem cuja carta continha o selo do círculo com uma estrela dentro logo descobrira que se tratava de uma correspondência urgente e de grande importância já que não recebia uma daquelas a muitos séculos, lendo o conteúdo e se colocando a par de tudo o que ocorrera fez por incluir o nome do jovem rapaz nas listas daqueles que deveriam ser caçados e presos para julgamento.



Já na ilha das Cobras, a face escondida sob os inchaços dos socos que levara dos policiais Joaquim estava irreconhecível e para averiguar se se tratava realmente dele o Grande Mestre chegara ao complexo prisional, conversando com o responsável por lá ouvira-o falar que o homem preso por vezes ao anoitecer falara palavras em um dialeto que não compreendia, o grão-mestre olhara silenciosamente para as qualidades do local, portando o seu majestoso anel de ouro, de pele pálida e jovial ele pedira para ser levado até o preso sem esboçar qualquer reação de espanto ou temor, ele era desprovido dessas reações humanas, chegando lá encontra-o deitado no chão sujo de lama que mais parecia um mendigo.

- Veja senhor, ele recusa-se a tomar banhos e vive falando essa língua que desconhecemos. -Disse o guarda de plantão.

- Deixe-nos a sós por alguns momentos.

O guarda saiu, o Mestre adentrou a cela na qual Tiradentes estava sozinho, era uma cela desprovida de qualquer conforto cuja as paredes cheias de infiltração traziam apregoadas os grilhões usados para segurar os presos e no qual num deles estava o desfigurado Joaquim, tirando de dentro de seu paletó uma erva fê-lo a engolir.


- Vamos, engula desgraçado, rápido!

- Você pensa que eu não sei quem você é? Sim eu sei! Você veio de lá e sua única missão é impedir-me mas isso não acontecerá, você veio, eu sei, você está aqui a mais tempo que eu, há como o odeio miserável. - Disse Tiradentes em um tom de voz rouco e chiado, expressivamente forte e cheia de ódio.

- Claro que você sabe Gervásia ou melhor Abigor, você se perdera de nós, encontrou o caminho da escuridão e fez dele o seu refúgio, você esqueceu a nossa missão aqui e no passado, esqueceu-se quem é o seu verdadeiro senhor e para sua infelicidade nós estamos aqui também se alojou no corpo desse infeliz pensando que não perceberíamos. Agora terá que pagar com a sua vida e a dele, só que dessa vez você não voltará para o lugar de onde veio e sua missão dê por encerrada, você veio desprovido de qualquer força, cadê sua inteligência agora? Ainda não é sua hora Abigor, cadê suas legiões para defende-lo? - Disse o Grande Mestre.

- Ele não tem culpa senhor, ele apareceu no momento errado da minha passagem, infeliz do Tiradentes tão cheio de sentimentos nobres sucumbiu no primeiro momento. Minha missão não terminou Gamaliel, logo tudo se revelará!

- Não venha com desculpas, seu desgraçado, você nos colocou em perigo e agora pagará com a sua própria vida e eu mesmo me responsabilizarei para que você nunca mais retorne a esse mundo.

- Pobre Gamaliel, tenha cuidado para que ele não esculte suas ofensas. Outros virão depois de mim, e outros haverão de me libertar de qualquer prisão que você me imponha, não será a primeira vez nem a última, lembre-se disso.

Se retirando da prisão o Grande Mestre foi ter com o Vice-Rei que logo se incomodara pelo alto andar das horas, porém ao perceber de quem se tratava pulara de sua cama e fora recebe-lo com total reverência já que a influência do Grande Mestre se fazia por saber. O Mestre trazia consigo uma carta timbrada em alto-relevo, aquele era o timbre real, balançando a cabeça confirmara a decisão, logo o Mestre se retirara dali deixando o vice-rei pálido como a neve que nunca existiu naquelas terras. A carruagem andando nas ruas do Rio de Janeiro, tocando o chão castigado pelo ir e vir das carruagens dos senhores abastados que ali moravam, se perdera em meio a forte neblina, de onde a carruagem se perdera apenas um cachorro vinha andando cheirando o chão e procurando por comida. A lua começara a perder seu brilho enquanto a neblina se dispersava, o sol já denunciava a sua vontade de se fazer presente doirando as cadeias de montanhas que compunha a bela cidade do Rio. O galo cantara e a cidade já dava sinal de vida.
Um enorme grito se fez ouvir na cidade, com a mão no coração o padre já ancião sai correndo para ver do que se tratava, chegando no local vira o seu sacristão a chorar de nervosismo, abraçando-o perguntara porque havia gritado tão fortemente, e o sacristão sem olhar para traz aponta o corpo ao que o padre olha logo faz o sinal da Santa Cruz e manda que o sacristão saia correndo para ir até a intendência informar o ocorrido, logo o crime tomara de conta da cidade assim chocando a todos e virando notícia de jornal. A comoção foi geral, o medo se fazia presente por toda a parte porém a notícia do dia era outra e foi ela quem tomou de conta do noticiário das primeiras páginas dos folhetins e jornais que circulavam na capital, a condenação de Tiradentes ao enforcamento em praça pública.

Todos comentavam e por todos os lados se fazia ouvir a sentença:

" O homem conhecido por Joaquim, o Tiradentes, assinara acordo no qual assumia para si e mais ninguém a culpa pelo movimento conhecido como Inconfidência nas Minas Gerais e por esse motivo fora condenado a pena máxima. Que seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca e nela morra de morte natural e depois de morto seja-lhe cortada a cabeça e levada a Vila Rica onde na frente do parlamente, por tanto na praça, seja colocada no lugar mais alto até que seja ela consumida pelo tempo. Seu corpo será dividido em quatro pedaços e pregados em postes nos lugares onde o infame tenha passado, a saber caminhos de Minas, no sítio da Varginha, e das Cebolas. Que assim seja, por tanto assino".

A população toda atônita ainda não havia presenciado tais circunstância, mal souberam da morte do rapaz na igreja e já havia um espetáculo público planejado pela coroa, com direito a cortejo e choro em praça pública. A comoção era geral, todos falavam e comentavam sobre tal decisão da coroa, e todos se perguntavam porque o jovem Joaquim pagaria pelos crimes de todos sendo que ele era tão inocente quanto a todos que foram para o degredo ou mesmo libertado e tiveram suas penas retiradas.

O púlpito cadafalso estava sendo preparado, a batida do martelo seguia o ritmo dos sinos da igreja que badalavam chamando para a missa da matina, os moradores passavam em frente à praça com olhares desconfiados muitas vezes trocando olhares de medo e terror diante daquele que seria o palco dos últimos momentos de vida de Joaquim. Naquele dia a relva das planícies estavam molhadas da neblina da noite, as nuvens ainda cobriam as cadeias de montanhas e planícies, o verde na floresta estava escuro, o mar começara a se agitar e a tocar com rudez estrondosa nas arrebentação, as gaivotas plainavam em voos rasantes por horas perfurando o mar em busca de seu alimento.

Era manhã já quando o algoz adentrara a sela na qual o condenado estava a esperar pelo cumprimento de sua sentença, largado ao chão levantou-se rapidamente curvando a cabeça aceitou levar-se antes colocando uma túnica branca, tendo as mãos amarradas dera os primeiros passos para o cadafalso. Na rua da Cadeia o sol já tocava-lhe a pele, o jovem talvez não entendesse mais o que estava acontecendo porém caminhava como se nada o atingisse, naquelas alturas a erva já estava fazendo seu efeito, o trajeto seguido de olhares que ao mesmo tempo demonstravam felicidade de temor, as ruas enfeitadas como para uma grande festa e era uma festa para o governo suprimir toda e qualquer tentativa de revolução e colocar medo em qualquer um que estivesse pensando em fazer o mesmo que Tiradentes. O trajeto todo seguido pelas orações do clero e das religiosas presentes, muitas foram as beatas que o acompanharam, pobres beatas de nada sabiam, e rezavam e cantavam e a multidão se aglomerava para ver o jovem rapaz, foi quando de frente a igreja de Nossa Senhora da Lampadósia pararam, o jovem sentira uma tontura e pedira para fazer uma oração.

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