domingo, 8 de maio de 2011

Por que você escreve? - A Dinâmica do Pensamento - Serie para Escritores

Por que você escreve?
Da minha decepção só nasce dureza
Do meu Amor Só nasce Tristeza
Não sei o que quero

Mas sei o que não posso ter”
Flor Bela

A Dinâmica do Pensamento

Diariamente quando acordo e quando vou dormir me faço a mesma pergunta - Por que você escreve "cara"? - Procuro não responder a pergunta mas só analisa-la sempre sob um ponto de vista diferente do dia anterior quando me questionei.

Ando lendo muito ultimamente, minha profissão exige e meu gostar de literatura já transformou a leitura em um hábito normal, leio muita coisa boa mas também leio coisas ruins, é imprevisível, às vezes você começa lendo algo bom e no meio da história tudo se perde, a continuidade é péssima ou se perde no meio de detalhes fúteis desnecessários ao bom andamento da história. O mais incrível é, me deparar com a diversidade daquilo que está sendo produzido ultimamente, isso sim é algo esplendoroso, porém até na literatura há uma via de mão dupla, o lado direito te leva a qualquer lugar e o lado esquerdo onde o coração fica te leva a caminhos onde a seleção é natural e só fica aquilo que realmente é bom.

Existem diversos tipos de escritores e literaturas, desde os mais comerciais aos mais técnicos, porém o que observo é que uma grande parcela de escritores deseja tanto ser publicada que se submetem às mais vis e ridículas torturas de seus estilos literários, vejo escritores se aventurando em mundos que não pertencem e outros esquecendo aquilo que são, se preocupam mais em serem publicados que até medo de criticarem suas editoras eles têm e ficam calados, silenciam diante da adversidade, prova disso é que a maioria escreve poesia mas abandonam-na na primeira oportunidade de publicarem algo, como eu disse é uma via de mão dupla, enquanto correm para publicarem sobre qualquer coisa menos poesia a internet dá um banho em tudo, nunca se viu tanta poesia sendo publicada como agora, basta navegar nos blogs e sites. Desde quando poesia não vende? Essa pergunta hoje não é mais pertinente, é necessário voltar as origens para se descobrir o que acontece hoje, não é possível haver renovação se a essência da escrita permanecer sob o véu do incrédulo.

Recentemente o mundo literário foi bombardeado com a critica da Crítica, há uma crise pois a critica está limitada áquilo que só é publicado pelos grandes meios, o mundo é confortável e eles não querem avançar para águas desconhecidas, sair do conforto e se deparar com o novo é esmiuçar o que há de melhor mesmo que dentro do cesto haja muita coisa ruim, de lá é possível tirar algo bom e que valha ser comentado, se a Critica se limita a seu mundo de conveniências permanecerá na crise, e se ela se limitar será impossível descobrir algo novo, porém enquanto a essência do escrito "poesia" permanecer a mesma, os demais caminhos tendem a permanecerem no mesmo. O concreto começou pela renovação da poesia, depois passou para o conto e atingiu os diversos meios de cultura, não que esse seja preferido, foi mais fácil citar pois é o mais atual, ainda se vê autores escrevendo poesia “concreta”.

O foco aqui não é a Critica, mas não poderia deixar de comentar isso já que o assunto é aquela pergunta inicial - por que você escreve "cara"? - E voltemos! Tenho visto muita coisa que agrada, não agrada a mim mas as editoras, o que está sendo escrito atualmente tem um apelo muito comercial, são coisas que se transformam em filmes e vendem muito, são verdadeiros roteiros de filmes que não propões uma mudança de estética mas permanecem nas mesmices que estamos acostumados, hoje em dia o cotidiano tem virado livro e esses livros vendem, o caminho está sendo traçado por um novo parâmetro que está ligado mais a uma parceira comercial de editora e cinema do que editora e autor, a preocupação hoje em dia é se o livro tem possibilidade de se transformar em filme, se houve qualquer possibilidade ele logo é transformado em um BestSeller, o conteúdo é bom mas será que essa deve ser a real preocupação daquilo que está produzindo literariamente? O autor/ escritor deve se preocupar com isso na concepção de seu trabalho? É ai que está o problema, quando começo a ler, o livro inicialmente parece ter a característica de se aventurar em um mundo novo e diferente, oferecendo uma estética que já identifica o escritor, porém quando você chega ao meio do livro percebe que a estética inicial se perdera, que a proposta principal se perdeu e a continuidade já está mais para um filme detalhista do que para a literatura no seu nível e desnível. O que importa é ser lido ou escrever com qualidade?

Certa vez meu professor de Oficina Literária, na faculdade, falou que se nossa intenção era sermos escritores de sucesso deveríamos nos aventurar em escrever primeiro um livro de Autoajuda e só depois passar a escrever literatura propriamente dita, realmente esse é o caminho do sucesso, mas é correto se submeter a esse tipo de perversão literária para ser alguém de sucesso? Nossa, são tantas perguntas ao longo do texto, mas que merecem uma apreciação do leitor, as vezes a desonestidade literária nos pega quando nos deparamos com o fato de que nossos leitores se lembrarão de nós por termos escritos autoajuda do que realmente por aquilo que escrevemos com qualidade (não que o livro de autoajuda não tenha qualidade, longe disso, já li alguns que são ótimos), o leitor quando for nas livrarias comprar, vai pensando que o livro é no estilo do primeiro e quando chega lá é só decepção pois descobre que o livro ou é de poesia ou de qualquer outra coisa que não seja no estilo do primeiro, a isso chamo de traição e prostituição literária e é o que vem acontecendo muito, já vi diversos escritores que fizeram um sucesso enorme e hoje você não lembra nem o nome do cara, quer um exemplo disso? - Rs, rs, rs, procura no Google - você lembra quem escreveu Marley e Eu? - Só alfinetando.

Para que você não entre no mundo dos esquecidos, pois o que importa não é a fama, você tem que ter em mente que qualidade é o mais importante, e quem defini a qualidade não é um conjunto de regras para seguir, o que defini a qualidade é na verdade a sua honestidade com o leitor, você não precisa que digam o que escrever, escreva apenas sem se preocupar com o que dirão pois você não será o primeiro nem o último, quando for escrever tenha em mente que homens como Lima Barreto diversas vezes fora rejeitado pela Academia e hoje sem dúvidas é um dos grandes escritores brasileiros, quem lamenta hoje essa rejeição sofrida por ele é a Academia por não tê-lo tido em um de seus acentos. Aliás, lá tem muitos esquecidos que não são esquecidos porque são eterno nos registros deles mas que para nós nem na lembrança ficaram, a atualidade demonstra isso facilmente, muitos têm apenas títulos e por causa desses títulos (galardões, para ficar claro que não se trata de títulos de livros, vai que alguém esquece) são lembrados.

As vozes não se calam e não perdoa o tempo, amargar as derrotas em concursos, bolsas e em análises de editora está no cotidiano de alguns grandes escritores de nossa época, no passado as coisas nem sempre foram simples como hoje, porém é preciso ter em mente que desistir é coisa dos fracos, os fortes vão à luta.

Em um mundo com tanta diversidade literária, precisamos ter em mente que não podemos nos permitir aos clichês próprios dessas vanguardas espalhadas e autointituladas, precisamos sair das mesmices, e viver o novo é não se deixar levar porque o barco está indo com a maré, reme contra a maré, conheça e leia mais, quando era jovem não queria deixar-me influenciar pelos escritores do passado hoje em dia sinto necessidade de meus mestres, não uso tudo o que aprendo pois tenho meu próprio estilo, mas aprendo tudo o que me ensinam pois não há estilo que nasça sem uma boa influência de alguém. Porém não se deixe perder na adversidade do aprendizado, busque ser diferente.

A outra parte daquilo que somos, enquanto escritores, é aquilo que detemos enquanto leitores, ai você fica pensando um pouco pois isso é texto para um novo artigo. Até a próxima com a séria: Por que você escreve?



12 comentários:

  1. Hoje em dia com tanta coisa sendo escrita, tantos textos disponíveis na internet, mas infelizmente ainda têm escritores que se preocupam com o que os outros vão falar ou escrever sobre sua obra. É uma pena.

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  2. Ora se eu penso, logo posso deixar escrito o que meus pensamentos são por vezes são momentos de alegria, tristeza, libertação e até de raiva. Por vezes somos mais abertos escrevendo que conversando. Para mim a escrita flui naturalmente conforme meu estado de espírito, não quer dizer que seja racional, ou seja, compreendida por todos, isso não importa. Tem escrita que é como uma arte abstrata apenas nada diz e quem sabe se diz absolutamente tudo para quem escreveu? Será que importa isso, ou importa o escritor?
    Eu não me importo com o que dizem, apenas escrevo o que dita meu coração, se tem qualidade não sei, mas uma coisa eu sei que muitos do que lêem se identificam com a escrita e gostam do que lêem.
    Eu escrevo porque eu sinto bem, acalma minha mente, relaxa meu espírito e me faz feliz porque quando escrevo o mundo é somente meu e ninguém entra nele, nele eu sou quem quiser e vou onde quero.
    Paz profunda

    Betimartins

    www.betimartins.prosaeverso.net

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  3. Gosto dos comentários, fico feliz quando comentam para o bem ou para criticar aquilo que escrevo.

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  4. Agradeço todos os comentários, seria bom que sempre comentassem as postagens!

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  5. Eu escrevo porque necessito derramar meus sentimentos dando vazão aos argumentos que me completam viver.(Mônicka Christi-Escritora,Pedagoga e Radialista-Apresentandora do Programa de entrevistas e variedades MULHER BRASILEIRA-Rádio Rio de Janeiro-1400 AM/2ªfª a 6ªfª de 09h às 11h)

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  6. Escrever, por quê?


    Por que e para quem os escritores e poetas escrevem? E por quais motivos? O que move suas mãos para a pena que, enlouquecida, não pára de deslizar no papel? Enquanto tentam coordenar as ideias que surtam como pipocas estourando uma após outra, os dedos percorrem os teclados procurando avidamente as letras que formarão as palavras que irão traduzir seus pensamentos.
    É um momento mágico, sublime! Só os que já passaram madrugadas insones com as ideias latejando na cabeça sabem do que eu estou falando. É uma espécie de febre gostosa , é sentir o espírito verdejante e a alma florida. Aprende-se a ouvir o silêncio e a enxergar a verdadeira essência das coisas. E enquanto não se coloca a emoção para fora, fica uma espécie de dor, de sufocamento, de angústia, que só se afasta quando as palavras fluem, quando a obra vai tomando forma.
    E o que dizer do poeta, que vê tudo com olhos de paixão, extasia-se com coisas frugais e coloca a alma na ponta da caneta para trazer à luz seus tesouros ocultos? Feliz dele que consegue acordar os sonhos, comungar as belezas da vida e traduzir a voz das plantas e dos animais. Às vezes enxerga o mar inteirinho dentro de uns certos olhos verdes.
    Poetas não costumam passar sua obra pelos filtros da razão. E ainda conseguem a proeza de encaixar toda cadência do universo infinito no espaço restrito de um só verso.
    Com o esboço pronto, vem a sensação de saciedade, de paz, de missão cumprida. Compara-se ao gesto de um famoso escultor italiano, que ao ver sua obra acabada, em êxtase exclamou: “parla!”. Ou ao pintor quando dá a última pincelada no quadro e sente-se um deus diante da obra-prima. E o poeta, assim que termina o poema, se apaixona perdidamente pela musa.
    Que coisa fascinante é trazer à luz um texto como se fosse um filho querido. E depois dividi-lo com o mundo, dar-lhe asas, e deixá-lo voar livremente, para que pouse nas mentes de quem os lê e frutifique. Escrever é como adejar asas sem tirar os pés do chão. O escritor possui nadas, mas ao mesmo tempo é dono do mundo.
    Escrever é um ato fascinante. Desde tempos imemoriais, nossos antepassados já careciam dessa comunicação com outras cabeças pensantes e queriam dividir suas ideias com amigos ou deixar de herança aos descendentes o que levavam em suas almas, suas experiências, suas sagas. De maneira rudimentar “escreviam” com tintas vegetais nas rochas, com gravetos na areia, e onde mais sua imaginação indicasse. Eram os primeiros e incipientes passos da literatura antes do surgimento dos papiros e da pena, precursores da era da informática, quando o mundo se tornou pequeno e globalizou-se.
    Para se escrever bem é preciso ler muito. E para isso é necessário que haja bons escritores. As ideias vão se entrelaçando e cadeias de pensamento coletivo vão se formando
    Depois da criação do alfabeto e da literatura, nunca mais a humanidade foi a mesma.

    Ivana Maria França de Negri

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  7. Gostei muitos das suas idéias, mas você tem um grave problema com relação à pontuação. Suas orações são extensas, o que traz uma perca com relação à significação do que pretende passar. Mesmo assim achei seus comentários excelentes e seus questionamentos muito pertinentes. Se todos nós questionássemos a vida de um modo geral, as coisas correriam melhor. Mas acho q essa é uma virtude e um pecado (o questionamento) dos amantes da literatura.
    Um abraço

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  8. Caro
    Gostei do que li. Sou curioso da escrita e dei princípio recente à ideia de tirar da gaveta as minhas criações. Foi útil a leitura de seu texto mas permite-me corrigir o funcionamento da língua, até porque, como ex-professor de português, essa área me é algo sensível.
    Na frase:
    "grande parcela de escritores desejam tanto serem publicados que"
    deverás alterar para:
    "grande parcela de escritores deseja tanto ser publicada que"

    (concordância entre o sujeito [parcela] e a forma verbal do predicado [deseja].

    Um abraço
    Dom Joham

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  9. sou um estudioso da bíblia e gostaria de publicar minha obra. ja estou no meu terceiro livro só falta uma editora

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  10. Comecei a escrever por uma necessidade - descoberta da soropositividade para o HIV. Acho que auxilia a organizar algumas questões e pode possuir efeito terapêutico. Gostei muito do seu blog!

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  11. http://ninguemporai.blogspot.com/

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  12. Ou talvez por quem ou para quem vc escreve seriam bons temas para se escrever!

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