Sexta Feira Treze - Parte I
Estava andando pela rua das Laranjeiras no bairro de mesmo nome aqui no Rio de Janeiro, incrível como tudo mudou, os casarões velhos da época de meus avós deram lugar a enormes prédios e arranha céus que mais parecem que vão cair por cima de nós do que qualquer outra coisa, em nada lembram a bela construção aristotélica da Acrópoles.
A noite é muito convidativa, e nas laranjeiras não perdeu o seu ar de mistério ou silencio, o fato é que continua lá escondido por trás daquelas construções de concreto. Com elas ou sem o bairro não perdeu seu charme, continua o mesmo da época de Machado de Assis, em algumas ruas é possível ver algumas construções antigas, imaginar o grande acadêmico vislumbrando seus contos.
E foi andando a procura de uma dessas ruas que entrei na rua Imaruí, não havia imaginado que aquela rua fosse tão escura, iluminada apenas por um poste, a rua era pequena e tinha mais ou menos uns quinze casarões e um enorme prédio fincado bem no meio, a única coisa que é capaz realmente de tirar o charme de lá. Em cada casa havia uma árvore, fui caminhando e observando cada uma, os portões antigos, as varandas com detalhes em azulejo, até que ouço um uivo, era o uivo de um cachorro, nossa fiquei todo arrepiado, mas continuei observando os casarões, alguns até abandonados estavam, ignorei o uivo pois pensei que ali havia a possibilidade de alguém ter um cão em casa.
A casa de numero 102 foi a que mais demoradamente fiquei a analisar, a data de sua construção estava afixada na faixada de 1885 um ano depois de nossa primeira constituição segundo a batuta do imperador Pedro II, ela era muito significativa mas aparentemente estava abandonada. A sua cor era azul e branco, estava toda desbotada, a abobadada mais parecia um circulo do que um vaso, nas telhas podia ser ver buracos enormes, precipitei-me sobre o portão, a luz do poste piscou duas vezes e apagou, a rua que já era escura ficou mais escura ainda, percebi que já era hora de ir pra casa com a promessa de que viria um outro dia para ver o estado real da casa e tentar aos menos descobrir dos vizinhos quem era o dono. Já caminhando pra casa, ainda na rua Imaruí, percebo uma sombra enorme se aproximando de mim, isso era possível pois a lua naquele dia estava cheia e possibilitava uma luminosidade prateada e singela, o seu brilho tocava a terra que se refletia na vasta escuridão prateada da rua. Cada vez mais que eu me aproximava da sombra e ela de mim percebi diminuir, e foi assim até nos encontrarmos, nossa era um enorme gato preto com seus olhos brilhantes, ele olhou-me ronronando, fiz o sinal da Santa Cruz e sai sem sequer olhar para traz, aquilo não era bom, era um sinal de mal presságio, fiquei me questionando o porque logo comigo.
Fui pra casa correndo, eu era muito supersticioso e me sentia muito preocupado quando isso acontecia, chegando em casa peguei logo um galho de arruda fui até meu quarto tirei toda a roupa em seguida peguei um roupão e fui direto pro banheiro. Na banheira já cheia joguei as folhas de arruda esperei alguns minutinho e me joguei dentro com a esperança de afastar de mim todo aquele mal presságio que havia sentido. Ainda ouvia o ronronado dele, parecia querer falar algo, algo que meus olhos não viam ou que ainda não sentia. Minha mão trêmula caminhava sobre o meu corpo em busca de qualquer lugar seco onde a água não houvesse tocado, o medo tomara conta de mim.
Ouço ruido inigualáveis, umas das janelas de meu quarto começaram a bater sistematicamente, levantei-me e fui fecha-la mas para meu espanto lá estava ela fechada e as cortinas pareciam do modo como deixei antes de deitar-me na cama, a imagem do gato preto voltou em minha mente, por um momento pensei ser um sonho mas logo lembrei que não era, os sinos da igreja badalavam a meia noite, meus olhos deslizando sobre o calendário que estava na parede denunciaram que era sexta feira treze, fiquei todo arrepiado, a sensação era de que aquela noite não seria boa, joguei-me na cama embaixo de meus edredons procurei ao máximo me confortar e dormir mas estava difícil, em frente a minha casa havia um poste e no poste uma espécie de arame que castigava-o a todo momento, eu já havia ligado para a prefeitura umas dez vezes para que eles viessem resolver o problema mas a resposta era sempre a mesma de que um dos funcionários passaria por lá para resolver o problema e assim se foi a semana.
A ventania que estava fazendo naquele início de noite de sexta feria contribui para que o arame batesse constantemente no poste e com violência de modo que em um dado momento ouvi um estrondo seguido de uma queda de energia. Minha casa ficou totalmente escura, e eu já entrando em estado de insônia tive que me levantar para acender uma vela. Caminhando dentro de minha casa, modéstia parte muito bonita, no meu corredor todo em madeira colonial, a claridade que da janela dava para o corredor foi que iluminou o caminho, percebi então meio que um espectro avançando sobre a luz.
Imagem: http://www.imotion.com.br/imagens/details.php?image_id=5207
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Ual, é de arrepiar! Gato preto, porta batendo, falta de luz, rs rs, o que virá?!
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