Caim
" Este é o sinal de tua condenação, acrescentou o senhor, mas é também o sinal de que estarás toda a vida sob a minha proteção e sob minha censura, vigiar-te-ei onde quer que estejas."
Confesso que só agora me despertou o interesse de ler o livro de José Saramago intitulado "Caim", talvez porque tenha lido poucas obras dele e talvez um pouco porque a propagando feita em torno do livro tenha-me despertado esse lado curioso que todo buscador e pesquisador tem. Antes de mais nada meu caro leitor lhe convido a abandonar por alguns instantes suas convicções teológicas e religiosas para por um momento analisarmos a obra "Caim" sob o ponto de vista literário e não de nossas convicções, mais uma vez, religiosas e teológicas.
Se você tivesse a oportunidade de estar diante de deus para questiona-lo quais perguntas você faria? O escritor português responde isso com maestria dando um baile de possibilidades. Tudo começa no Éden com Adão e Eva logo em seguida partindo para a história de Caim e Abel surgindo dai o estopim para o desenrolar da história que permeia o livro. É um embate onde não há o criador e a criatura, ao contrário do que muitos dizem por ai, o embate é na verdade entre dois homens onde um é imagem do outro horas ficando evidente o Criador e horas ficando evidente a Criatura e por vezes revelando a face de um deus cuja sua real fundamentação dentro livro é a de um deus inescrutável e que baseia-se no livre arbítrio do homem e por isso as possibilidades de caim por diversas vezes questiona-lo.
O lado humano da história é aquele que defende a vida diante de qualquer possibilidade e desperta o leitor para as questões humanas: as crianças e a homossexualidade em babel, as mulheres e os jovens nas guerras, os seres e a natureza no dilúvio. São questões atuais que tem dimensões nos direitos humanos e transcendem a realidade nos despertando para um diálogo mais natural dos debates que atualmente rondam as mesas de nosso dirigentes, transformar tudo isso em um livro de fácil leitura e de linguagem acessível é ter a maestria das letras ao toque suave do som que se perfaz ao teclado do computador.
Assim como na história bíblica em Caim deus promete não tocar o humano caim que vaga dos diversos capítulos e passagens bíblicas para por vezes ser anjo e outras um mero espectador das histórias que se desenrolam, ele questiona, e questionar é algo natural pois é dos questionamentos que a filosofia baseia e estrutura todo o seu estudo, às vezes ele é respondido e outras vezes fica só no questionamento, a que se deve isso? O deus que se apresenta diante da obra de José Saramago é um deus primeiro pai, cria seus filhos e deles tem ciúmes já que os cria para si pensando que nunca eles o abandonarão logo com a decepção vem o castigo e o castigo é justamente tira-los do éden e afasta-los dos privilégios concedidos, em uma linguagem mais atual seria tirar o play station de sua criança que fez uma coisa muito errada e essa seria a forma natural de castiga-lo, é assim que deus se comporta em todo o livro, veja bem, deus não toca caim e nem tira-o a vida será apenas porque fez uma promessa a ele? A resposta é não, se deus se apresentasse realmente como aquele cheio de ira logo teria voltado sua ira para caim, mas o defende por causa de sua aliança que é uma aliança de amor de pai e depois de censura pelo erro cometido quando ele matou a seu irmão abel. A prisão de caim para erro tão grave é justamente o seu abandono, onde o pai ama o filho mas reprimi-o pelo erro cometido não tirando o vínculo familiar que existe e continua a existir.
A obra de José Saramago tem pontos alto e baixos, é ausente do ponto de interrogação, houvera momento que confundi frases afirmativas com interrogativas e tinha que reler a frase para continuar a leitura. O ponto forte realmente é essa questão do diálogo natural do homem e buscar compreender os acontecimentos atuais.
Será que deus é realmente tão cruel quanto a sociedade? Caim responde esse questionamento com simplicidade de linguagem e com verdadeira ciência.
Uma obra que vale ser lida!
Sinopse:
- Caim
Neste novo romance, o vencedor do prêmio Nobel José Saramago reconta episódios bíblicos do Velho Testamento sob o ponto de vista de Caim, que, depois de assassinar seu irmão, trava um incomum acordo com deus e parte numa jornada que o levará do jardim do Éden aos mais recônditos confins da criação.
Se, em O Evangelho segundo Jesus Cristo, José Saramago nos deu sua visão do Novo Testamento, neste Caim ele se volta aos primeiros livros da Bíblia, do Éden ao dilúvio, imprimindo ao Antigo Testamento a música e o humor refinado que marcam sua obra. Num itinerário heterodoxo, Saramago percorre cidades decadentes e estábulos, palácios de tiranos e campos de batalha, conforme o leitor acompanha uma guerra secular, e de certo modo involuntária, entre criador e criatura. No trajeto, o leitor revisitará episódios bíblicos conhecidos, mas sob uma perspectiva inteiramente diferente.
Para atravessar esse caminho árido, um deus às turras com a própria administração colocará Caim, assassino do irmão Abel e primogênito de Adão e Eva, num altivo jegue, e caberá à dupla encontrar o rumo entre as armadilhas do tempo que insistem em atraí-los. A Caim, que leva a marca do senhor na testa e portanto está protegido das iniquidades do homem, resta aceitar o destino amargo e compactuar com o criador, a quem não reserva o melhor dos julgamentos. Tal como o diabo de O Evangelho, o deus que o leitor encontra aqui não é o habitual dos sermões: ao reinventar o Antigo Testamento, Saramago recria também seus principais protagonistas, dando a eles uma roupagem ao mesmo tempo complexa e irônica, cujo tom de farsa da narrativa só faz por acentuar.Ficha Tecninca:
- Editora: Companhia das Letras
- Autor: JOSE SARAMAGO
- ISBN: 9788535915396
- Origem: Nacional
- Ano: 2009
- Edição: 1
- Número de páginas: 176
- Acabamento: Brochura
- Formato: Médio
Pelo que foi exposto, o livro merece uma leitura atenta, cuidadosa para que o conteúdo possa ser degustado sem receios; confrontando os conceitos pré-definidos, polindo-os. É um livro para reflexão sob outra ótica.
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