terça-feira, 12 de abril de 2011

A Tentação







Certa vez estava andando pela praia de Copacabana, a orla é muito visitada, e sempre tem turistas passeando por lá, tirando fotos, ou mesmo parados nos quiosques bebendo uma cerveja e apreciando a vista que a noite tem um charme especial, mas nesse dia não havia movimento, até mesmo porque já era tarde da noite, e apenas os carros passavam com seus faróis cintilando naquele neblinar decrepito que tomava de conta do lugar as vezes atrapalhando a visão.

Caminhando sobre a areia, coisa que sempre fazia desde criança já que minha mãe me ensinara que caminhar na areia do mar tanto enrijecia a panturrilha como também era terapêutico já que por vezes nos fazia esquecer de nossos problemas - o que era muito agradável - , descalço de qualquer pensamento que naquele momento pudesse me torturar, pude refletir sobre diversas coisas de minha vida, e no vazio daquele momento de reflexão algo começou a atormentar o meu corpo, um formigamento constante trazia consigo o pânico e a escuridão. Um suor frio começou a me tomar, não sentia qualquer movimento, e apenas a minha mente estava ali, em um piscar de olhos sem que eu percebesse o meu corpo estava a, caminhar pois tinha vontade própria. Estava na água que batia ferozmente sobre meu peito, as ondas constantemente vinham e cada vez mais com violência tão rústica chegando ao ponto de seu barulho ressoar ecoando em toda a orla. pensei: “ - Meu Deus o que estou fazendo aqui?” logo compreendi que era uma tentação demoníaca, algo tão perverso estava por trás daquilo tudo, de tal forma que naquele  instante queria se apossar de mim. Essa tentação começara a tomar formas se mostrando na pele de um homem de tão bela aparência, contornos angelicais, lábios úmidos como a brisa da noite e olhos galácticos que nos fazia mergulhar na mais íntima experiência de uma viagem às estrelas, nada me fazia pensar senão naquela beleza. Estava tão atento as perfeições doadas por Deus àquele belo rapaz, dádivas únicas dos seres celestiais, mas ali habitava algo que não era compreensível aos olhos humanos, havia algo estranho que se aperfeiçoava ao gelo e úmido momento que vivia, a maldade que me fazia imaginar, que mais se confundia com a realidade chegando de meus olhos a arrancar lágrimas de sangue, lágrimas essas que percorriam, em vida própria, do meu rosto ás minhas mãos e se misturavam ao mar, infinitamente atroz e vil.

Enquanto meu corpo jazia no total abandono de suas vontades, a minha mente incendiantemente era invadida por tormentos longínquos, que vinham como em ondas que se iniciavam silenciosamente e ao quebrar na arrebentação causavam todo aquele incomodo barulhento longe do encantar diário das ondas. Naquele dia em nada de belo havia a arrebentação, era tão ensurdecedor, raramente conseguia pensar algo realmente sério a não ser na tormenta daquela invasão, até que em um momento algo aconteceu, o silencio total se fez, e ele estava visitando os meus pensamentos mais íntimos.

Sua boca era como uma caverna de aparência gélida e fria porém quando penetrada mais a fundo se tornava um antro de conforto e aconchego, inconfundível era o som que dali saia, no primeiro momento aterrorizante mas depois suave, que mais lembrava a concubina satisfazendo o seu amante. Não havia nele desgraça senão a terrível graça que trazia consigo, capaz de dominar a todos em um simples olhar. E seus olhos momentaneamente eram como o fogo que ardia sem cessar, mas um fogo que não queimava e sim iluminava parte do corpo e momento da mente que revelavam o mais íntimo de qualquer ser que sentisse desejos. E desejos era o que fazia sentir quando sua mão se esvaia sobre a pele suave e humana que mais fraca era quando fora da presença luminosa.

Penetrar mais intimamente na caverna era chegar até o lugar de onde brotava aquele fogo incessante que confortava, era chegar no mais úmido do íntimo instante e nele mergulhar em uma aventura de dor, abandonar a esperança e seguir vagueando o rio Ades.
Vi jorrar de uma de suas mãos o sangue de minha culpa, o trágico desejo de ser o que não era até então desejo, foi ai que quase já abandonando a esperança pude sentir a fortaleza quando no céu contemplei as três ave-marias. Ela a grande Dama veio em meu socorro, trajando um enorme vestido branco onde a calda se confundia com as estrelas do céu, a lua embaixo de seus pés e nas suas mãos uma espada, travando assim uma luta incensante onde o meu corpo sentia cada dor quando a espada dela tocava aquele ser que me possuía. O mal se afastou de mim, meu coração acelerado doía apertado, com marcas fiquei daquele instante onde os meus braços e costas serviam como escudo, e chorando permaneci por algum tempo mesmo depois que tudo aquilo se passou. Meu corpo não aguentava as dores daquele castigo, enquanto a água diminuía lentamente e se afastava de mim, eu  ria daquele momento não fortuito.

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