segunda-feira, 4 de abril de 2011

Confusão na Praia



   Um dia de sol muito bonito e um calor escaldante, a praia estava bombando. Para André era indiferente o calor ou o tempo frio pois para o surfe não tem tempo ruim, e sua praia se chamava São Conrado. Morador da Rocinha tem que enfrentar diariamente as escadarias e becos da Rua 2 para chegar até a praia. Naquele dia vestiu-se com uma simples bermuda e sandálias, pegou sua prancha colocou debaixo do braço e saiu todo animado para surfar. No caminho cumprimenta alguns amigos, muitos estavam indo trabalhar, e aquele dia era o dia de folga dele. Chegando na Rua do Boiadeiro, lugar agitado pelos famosos moto-táxis que circulam levando os moradores a parte mais alta da favela, se depara com uma notícia desanimadora que passava no telejornal, tratava-se de uma menina que estava tomando café em sua casa quando chovia muito na cidade, a casa dela desabou e ela fora esmagada pelos escombros. De uma forma ou de outra aquilo impressionou André, ficou muito triste pensando na situação que poderia ocorrer com qualquer um inclusive com ele, a vida é como a chama da vela, o vento mais fraco pode apagá-la.

   Chegando na praia ainda impactado pela notícia da TV, tira o bermudão, coloca o pé de pato, e sai correndo para nadar. Veio uma onda e outra, mas nenhuma dava o impulso necessário para surfa-la. Quando ele já estava ficando sem esperança eis que veio se formando uma onda, perfeita, e nela André foi, pegou o impulso necessário, deu tudo certo. Formou-se um cone enorme, de mais ou menos dois metros de altura, ele no meio surfando extasiado cheio de adrenalina só conseguia gritar. No momento que a onda quebra, a prancha sobe partida ao meio.

   André acorda em uma ilha deserta, era noite, assustado começa a gritar por ajuda, percebe que não há ninguém na ilha que está sozinho. Mas como poderia ter vindo parar ali se ao que lembra ele estava em São Conrado surfando? E que ilha era aquela que nunca ele havia visto? O fato é que começou a procurar por ajuda.

   Entre umas olhadas e outras não vê nada, se assusta com o bater das asas de uma coruja que ali estava. Um vento frio transpassa a sua pele, algo estava acontecendo, arrepia-se mais de uma vez seguida. No escuro total e vazio daquela ilha sente calafrios, era como se estivesse sendo observado, e de fato olhos estavam a espreita, observando cada passo, farejando o medo, na solidão a intensidade dos sentimentos são triplicadas por sensações de abandono. Eis que houve galhos como se estivessem partindo, vira repentinamente para trás pensando que algo estava acontecendo, mas não passou de um alarme falso, já que o seu predador é invisível. O uivar de lobos dá conta de que ele não é bem vindo no lugar, começa a caminhar pela praia em busca de um abrigo. A busca por um local para descansar é interminável, dá voltas e voltas pela ilha mas sempre termina no mesmo lugar, é como se estivesse perdido em uma dimensão. Ouve passos e vozes, fica de pé, a esperança retorna ao seu coração, se anima seu semblante muda, mais corado sai correndo e gritando pedindo ajuda, falando que está perdido, e gritando por socorro. Logo percebe que as vozes que ouve não são comuns, não compreende, em silencio vai se aproximando, percebe iluminação e ao passo que se aproxima percebe que estão cantando e esculta batidas de tambores, sem querer pisa em algo que faz um barulho ensurdecedor, era um pequeno cachorro, pega-o, os nativos da ilha o escultam percebendo que estão vindo em sua direção sai correndo com o cachorro nos braços, os nativos correm atrás dele, enquanto ele desesperado leva consigo o pequeno cão. Corre velozmente, a chuva começa a cair sobre a ilha, pensa consigo que essa seria a última coisa que poderia acontecer, entra em uma trilha e se depara com uma pequena montanha, ali é o ponto final, não há pra onde correr. Os nativos se aproximam, armados de lanças e arcos prontos para atacarem a presa, parados diante dele, não havia mais para onde correr, o pegaram amarram-no e levaram para o local do sacrifício, estava totalmente amarrado, não sabia como se desprender, era o fim de tudo. Totalmente desnorteado pela situação, sem nem mesmo entender como foi parar ali ele se entregou, foi ai que viu-se sugado por uma força sobrenatural.

- Acorda! - dá dois tapas no rosto dele - Respira! Força, vamos, força!

   Tossindo tentando respirar acorda em meio a uma multidão, com salvas vidas na sua frente, não compreendendo, esculta vozes de longe falando que a prancha dele havia se partido ao meio e que ele simplesmente tinha se afogado. Ai sim começou a se recordar do que havia acontecido.

   Chegando em casa ainda desnorteado, tanto pelo sonho confuso quanto pelo seu afogamento, ao abrir a porta se depara com um pequeno cachorro que veio correndo em busca de seu carinho, ajoelha-se e percebe que é o cão de seu sonho, parado ali mesmo não consegue encontrar respostas para o acontecido.

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