domingo, 8 de abril de 2012

CRÔNICA - Quando a Paisagem me contempla - Jandeilson Bezerra

Quando a Paisagem me contempla  
Jandeilson Bezerra


Caminhando na praia, diariamente, percebo o quanto a paisagem é estática e silenciosa. Totalmente mergulhada em uma contemplação profunda, voltada para si, talvez, perceba o quanto a ação humana influencie em seu próprio cotidiano, mas nem por isso deixa de ser aquilo que é, puramente paisagem. Oras coberta de orvalho, oras quente, em alguns momentos seu semblante é suave, a expressão de seu estado natural vai se revelando com o passar dos dias e com o passar do tempo, contempla diariamente o amanhecer, entardecer e anoitecer de seus próprios sentimentos, talvez esses sentimentos para um humano comum não passe apenas de paisagem, essa folha que ao cair do outono eleva-se ao mais puro renascer, e não apenas renascer, mas também represente o amadurecimento de seus sentimentos, porem o humano comum não pôde perceber, a folha.


O bailar das nuvens, presentes e ausentes de seus devaneios, são a leve expressão de que o tempo passa, e a paisagem intocada a cada dia envelhece, suavemente deixando-se levar pelo bailar das correntes leste, que não se apiedam de qualquer que seja o sentimento, mas levam de tão bela paisagem seus verdes e agora secos fios de cabelo, e os ramos outrora cheios de vida, se acovardam na mais profundando tristeza, trazendo consigo a mais infame das dores, a de sua própria morte.


A estática porém experiente paisagem já não traz a vida de antes, e o tom de sua pele amarelado com o tocar dos raios de Apolo ainda encantam o tempo, que feliz percebe a tristeza insólito de momento agridoce. Jaz no seu mais intimo intento o sentido de que sua missão está prestes a se cumprir, mas a estática paisagem sabe não se acovardar e se entrega em suas mãos, o algoz percebe que sua oferenda já se encontra pronta, e de tão longe escuta-se a cancioneira de um sabiá, o norte sopra o seu sibilo e a paisagem estática mais uma vez pinta de cores os olhos da fragilidade que na primavera nasceu. O pequeno tenor não se cansa de florear, e a escala fantástica traz a entrega da alma que em lágrimas se entregou e entregando-se renovou o seu semblante, porém estática paisagem continua lá, cheia de segredos a contemplar o humano de seu próprio ser.

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