terça-feira, 24 de maio de 2011

Conto: A Casa Colonial

Por Jandeilson Bezerra
 Em uma casa típica carioca do bairro de Santa Teresa, colonial, com aspectos herméticos que sugeriam a primeira vista um lugar não muito frequentado, algo parecia sempre acontecer a noite. A casa em si era escura, uma pequena torre ponte aguda pendia ao centro dela, suas janelas eram pequenas, vidros sujos de poeira e teias de aranha, incluindo entre as janelas uma que estava quebrada e que de vez em quando em noites de chuva ruía e batia quando ventava forte. A casa estava no alto de uma montanha, rodeada de árvores, uma grande cerca de arames, um cachorro que ficava indo e voltando de ponta a ponta da cerca, com sua língua para fora, a espreita do primeiro atrevido que ousasse por aqueles arames passar.


 Era verão a época, já noite três belas jovens passavam ali perto, subindo a ladeira dos Tabajaras, a primeira se chamava Lorena, cabelos longos e dourados, pele macia como a seda, de estatura mediana, vê o cachorro do outro lado da cerca que já vem se precipitando sobre ela e começando a latir, ela grita e assusta as suas amigas, juntas dão um paço para trás, Beatriz que era morena, corpo torneado e lindos olhos cor de mel exclama auto que se assustou com a amiga e diz não compreender tanto escândalo. A outra, mais baixinha de todas, a Elisa, que geralmente gostava de usar roupas mais longas e sapatos mais altos, diz que o cachorro não a assustou mais do que o grito de sua amiga Lorena. O cachorro latia enquanto as amigas já assustadas se agrupavam uma colocando o braço cruzado na outra de forma que ficaram as três unidas, e tornaram a caminhar seguindo o seu trajeto sempre acompanhadas pelos olhos cintilantes do cachorro, caminham com uma certa serenidade, ainda não haviam avistado a casa no alto do morro, até que Beatriz a vê e diz:


- Nossa que casa mais treva. Fiquei toda arrepiada!
- É verdade. Toda escura por fora, né?! - Responde Elisa.

 Os passos das moças ficaram mais lentos, a respiração delas parecia mais ofegante que o normal, Lorena olha para traz e se dá conta que o cachorro não mais as observa, em compensação vê que tudo está escuro atrás, sente medo, segura mais fortemente no braço direito de Elisa que é quem está no meio e sem falar nada para não assustar suas amigas segue o caminho. O vento daquela noite de verão ficou de repente mais frio, a velocidade com que as palmeiras imperiais que haviam ali na calçada, suas folhas balançavam parecia ter aumentado, sem perceber a linda Beatriz chuta uma pequena pedra, o barulho a assustou, ela de súbito aperta o braço esquerdo de sua amiga, nada fala também. Ao ouvir o barulho Elisa rapidamente olha para trás e nada vendo olha a frente, sente-se tentada a olhar mais uma vez para trás e pensa consigo que estão sendo perseguidas, mas logo respondendo a si própria diz ser impossível já que o cachorro não latiu. Elas continuam caminhando, mas a caminhada era lenta, parecia que passar em frente aquela casa era uma missão que nunca terminaria.

 As moças encolhidas, já amedrontada cada uma individualmente, seguem caminhando sem deixar qualquer coisa transparecer uma para as outras. O silêncio era grande, barulho mesmo só o do vento quando tocava nas cumeeiras da casa no alto do morro. E começou ali, naquele momento, sem que elas nem tivessem percebido pois estavam já tão assustadas que sequer perceberam o bailar excessivo também das palmeiras imperiais.



 As nuvens no céu começaram a aparecer, surgiam de todas as partes, as estrelas e a linda lua que estava em seu ápice começaram a sumir entre as nuvens. O véu paladino do escurecer começou a tomar de conta de toda a rua, a torre da casa parecia estar rodeada de nuvens, sua ponta mais alta desapareceu, não se podia ver, e antes o que parecia assustador se tornou ainda mais assustador do que o normal. O vento ruía, ruía, ruía sem parar. As jovens moças pareciam estar perdidas em um caminho sem volta, e voltar era o que menos queriam naquele momento.

   Eis que de repente uma das janelas abre-se lentamente, as moças nada percebem pois a escuridão tudo escondia.O vento mais forte bate a janela, o vento silencia e o som se propaga até os ouvidos de Lorena, Beatriz e Elisa. Elas param de súbito onde estão. Uma olha para a outra, apavoradas, sem voz, os braços que antes estavam cruzados já não mais cruzados estavam, uma pegava na mão da outra. Começaram a correr. O vento retorna com toda a sua força, a janela começa a ruir, um ruido estridente junto ao vento, que mais pareciam uma nota fúnebre, enquanto as moças corriam. Elisa cai, seu salto quebra-se em meio a toda aquela confusão. O seu coração dispara, olhando fundo na ladeira ver uma sobra, sente uma sensação horrível, e exclama:

- Meninas viram aquilo? - Aponta com o dedo – estamos sendo perseguidas por alguém.

   Tira os sapatos, levanta e continuam correndo, assustadas. Na ponta da cerca, Beatriz vê de longe algo na cor prata, eram duas bolas pequenas reluzentes, de repente o cão se precipita sobre a cerca e começa a latir, todas gritam apavoradas, correm, não sabem o que fazer, aquele momento parece não ter fim. Ouvem paços, que se misturam aos ruídos estridentes da janela, e ao barulho excessivo do vento tocando na cumeeira da casa. Os passos parecem acelerar, elas correm mais do que nunca, rapidamente chegam na casa de Beatriz, ela não consegue colocar a chave na fechadura, a chave cai, Elisa pedi a ela que seja rápida, ela não consegue pois está tremendo muito, Lorena toma a chave da mão dela, coloca na fechadura e abre o portão, entram correndo, fecham o portão, entram dentro de casa trancam a porta, ofegantes na respiração, Elisa já chorando e apavorada. Todas sentam ali mesmo no chão uma olhando para a outra, ainda com medo. A casa escura, nenhuma luz acessa, de repente:

- Alguém? - Exclama o pai de Beatriz.

   Todas gritam sem pensar, apavoradas, o pai se assusta e logo acende a luz, olha as moças e preocupado pergunta o que aconteceu. As luzes do segundo andar se acendem, descem para a sala a mãe de Beatriz e seu tio, perguntando o que estava havendo ali, e quais eram o motivo de tanta gritaria.


 A lua toma o seu lugar no céu, cheia e rosada. As estrelas aparecem, enfeitando o infinito de modo que mais parece um lindo cobertor de diamantes. O vento se torna uma brisa suave. As jovens estão lá na cozinha tomando água e explicando o ocorrido.

   Eram nove horas da manhã, Dona Ana grita para que todos acordem pois o café estava na mesa. As moças são as primeiras a descerem, ainda comentando sobre o ocorrido da noite anterior, e afirmando uma para as outras que não conseguiram dormir pensando no corrido. O jovem Luiz, irmão de Beatriz entra na sala de café:

- Bom dia meninas!
- Bom dia mano - responde Beatriz.
- O é, o que ocorreu ontem a noite que vocês estavam correndo e gritando assustadas na ladeira? Vocês não          me reconheceram não é? Eu estava logo atrás de vocês, suas loucas!

   Elas olharam entre sim e todas começaram a rir.

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